O breve período de cinco anos que corresponde ao mandato do presidente Médici foi o único momento em que o regime ditador conquistou estabilidade política. Conseguindo apaziguar os quartéis ao permitir que as aspirações e interesses dos militares direitistas radicais, que defendiam a repressão policial-militar contra todos os opositores da ditadura, se expressassem em seu governo.
Por esse motivo o governo Médici correspondeu ao período da maior onda de repressão política da história do país.
O desenvolvimento e crescimento econômico advindos da estabilização da economia também contribuíram para a estabilidade governamental, entrando para a história como o período onde se registraram os maiores índices de desenvolvimento e crescimento econômico do país. Entre 1969 e 1973, a economia brasileira registrou taxas de crescimento que variavam entre 7 e 13 por cento ao ano. O setor industrial se expandia e as exportações agrícolas aumentaram significativamente gerando milhões de novos postos de trabalho. A oferta de emprego aumentou de tal modo que os setores industriais mais dinâmicos concorriam na contratação de trabalhadores assalariados.
A fim de sustentar e ampliar o desenvolvimento e crescimento da economia, o governo investiu grandes somas de recursos financeiros em infra-estrutura (construção de grandes estradas, pontes, hidrelétricas, etc.). Mas a maior parte desses recursos financeiros eram provenientes de empréstimos estrangeiros. Por outro lado, recursos enérgicos como o petróleo, comprado a preços baixos dos países exportadores, impulsionava ainda mais a economia nacional. Regiões pouco conhecidas e habitadas do país, como a Amazônia e a Região Centro-Oeste, receberam estimulo governamental para serem exploradas economicamente.
Esse período de prosperidade da economia brasileira ficou conhecido como o "milagre econômico". O "milagre" gerou um clima de euforia e ufanismo geral na sociedade. A propaganda oficial do governo elaborou slogans que expressavam nitidamente o contexto da época: são exemplos frases como "Ninguém mais segura este país", ou ainda, "Brasil, ame-o ou deixe-o".
O governo Médici vangloriava-se do "milagre econômico" apontando-o como uma conquista do regime militar. Porém, a fase de prosperidade da economia brasileira tinha muito mais causas externas (internacionais) do que internas. Por isso, quando a situação da economia mundial se tornou adversa, o "milagre" brasileiro chegou ao fim. O "milagre econômico" teve um custo social e econômico altíssimo para o país. A brutal concentração da renda impediu que as camadas populares melhorassem sua condição de vida. As desigualdades sociais e a pobreza aumentaram neste período.Por outro lado, o controle governamental dos sindicatos impediu a livre organização dos trabalhadores e, consequentemente, a conquista de direitos e compensações salariais. Os empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa tão elevada e custosa que bloqueou por décadas o crescimento e desenvolvimento sustentável do país.
Quando o presidente Médici assumiu o governo, todos os órgãos que compunham o sistema repressivo da ditadura militar se encontravam em pleno funcionamento. De 1964 até 1968, o trabalho de repressão política ficou sob exclusiva jurisdição civil, destacando-se neste período as atuações do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em cada estado, Secretarias Estaduais de Segurança Pública (SESPs) e Departamento de Política Federal (DPF). Com o Ato Institucional nº 5, em vigor desde 1968, o sistema repressivo desencadeou ações violentas contra todos os opositores do regime. O principal alvo da repressão policial-militar foi direcionada contra as organizações guerrilheiras que entre o fim da década de 1960 e início da década de 1970, realizaram ações como assaltos a bancos para conseguir recursos financeiros, seqüestros de embaixadores para serem trocados por presos políticos, atentados contra autoridades e empresários. Tinham como objetivo derrubar a ditadura e instaurar um governo socialista no Brasil. Porém, todas estas organizações urbanas foram destruídas ou completamente desarticuladas. A maioria dos militantes dessas organizações morreram em combate com os agentes dos órgãos de repressão. Aqueles que sobreviveram ficaram presos ou foram banidos do país. O golpe final da ditadura contra as organizações armadas foi dado com a destruição da Guerrilha do Araguaia, que havia sido promovida pelo PC do B.
Mas o aspecto mais desumano e cruel da repressão policial-militar foi, sem dúvida nenhuma, o emprego da tortura como método para eliminar e neutralizar qualquer forma de oposição e subversão ao governo dos generais. Diversos instrumentos e técnicas de castigos corporais e psicológicos faziam parte dos métodos de ação dos agentes dos órgãos de repressão (choques elétricos, pau-de-arara, afogamento, pancadas, queimaduras, etc). Os governos militares negavam categoricamente a prática da tortura, mas ela era sistematicamente utilizada como método para extrair confissões dos acusados ou suspeitos. Foi justamente durante o governo Médici que foram registrados os maiores índices de emprego da tortura. No filme de Roberto Farias “ Pra frente, Brasil”, os atentados contra a liberdade são denunciados mesclando fatos e nomes verdadeiros numa obra que, segundo a legenda, era de ficção. Apesar da época ser conhecida como período de Abertura, a exibição do filme foi proibida pela censora Solange Maria Teixeira Hernandes que afirmava haver “excessos de liberdade no cinema e no teatro”.
Também se chama a atenção para o uso de elementos de cena, como o adesivo pregado no carro “Brasil, ame-o ou deixe-o”, que revelava o desprezo total pela democracia. Outro ponto observado foi a representação dos setores politizados e conscientes das ações brutais da ditadura, rotulados como subversivos em contraste com a postura dos cidadãos que optavam por não se envolver, que se auto definiam como apolíticos. O filme mostra nuances da luta armada e da clandestinidade daqueles que se indignavam com o sistema e o medo de serem perseguidos, torturados e mortos, daqueles que continuavam a pleitear abertamente seus direitos.
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